A médica infectologista
Ana Campanile, coordenadora da Comissão Estadual de Controle de Infecção
em Serviços de Saúde (Ceciss) da Secretaria de Estado da Saúde, está
preocupada com o quadro de Chikungunya na Paraíba.
Em palestra feita nessa
sexta-feira (3), ela disse que os números são bastantes elevados,
mostrando distinção em relação a outros estados por apresentar quadros
graves em grande escala.
Sobre as arboviroses
(doenças transmitidas por insetos), ela disse que enxerga um futuro
assustador devido ao difícil diagnóstico, confusão dos sintomas e
doenças com mutações. Ana
Campanile foi uma das palestrantes no treinamento de Manejo Clínico das
arboviroses Dengue, Zika e Chikungunya, ocorrido no auditório do
Sebrae, no Rodoshopping Patos, no Sertão da Paraíba, a 307 km de João
Pessoa.
Para caracterizar o
problema, a médica citou como exemplo o município de Monteiro, no Cariri
da Paraíba, a 305 km da Capital, onde mais de 80% da população teve
Chikungunya, muitos apresentando gravidade. “Estou vendo na Paraíba um
cenário diferente de outros estados, com gravidade de pacientes, com
complicações de Chikungunya, exacerbações de doenças crônicas, pacientes
em UTI e óbitos já tivemos seis”, disse Ana Campanile, que criticou a
falta de um respaldo pelo Ministério da Saúde, que ainda não apresentou o
protocolo de Chikungunya, como também verbas nessa direção.
Com relação ao cenário
atual das pesquisas, quando se buscam antídotos que imunizem para os
vírus citados, especialmente o Zika, por estar associado à microcefalia,
a infectologista destaca pontos positivos, como a descoberta das
alterações neurológicas que o Zika causa, pois não havia referência
sobre essa associação.
Um fato que surpreende
aos pesquisadores, segundo Campanile, foi a rápida expansão das três
doenças com muita rapidez na América Latina. A Zika existe desde 1947, a
Chikungunya desde 1952 e em apenas dois anos há essa explosão de casos.
No último dia 2, o Governo Federal anunciou recursos da ordem de R$ 65
milhões para pesquisas do vírus Zika, trazido ao Brasil provavelmente
por estrangeiros durante a Copa do Mundo de 2014.
A infectologista também
criticou o combate ao Aedes: “parece que as pessoas não se importam com
criadouro do mosquito, em todas as classes sociais. A gente passa por
esses postos da Polícia Rodoviária e há uma quantidade incrível de
veículos, todos com criadouros de mosquito. A gente vê isso em todo
lugar. Acho que falta muito apoio da população. Ande na praia na segunda
e veja a quantidade de lixo deixado no dia anterior. É preciso muita
conscientização”, afirma.
A Chikungunya, conforme
destacou Campanile, deixa um rastro de consequências sociais. O
tratamento é caro e o paciente precisa ficar afastado do trabalho para
se recuperar. “Será que essa empresa, esse patrão entende a necessidade
daquele funcionário precisar ficar afastado do trabalho por causa de
dor? Acho que esse contexto social é muito importante”, enfatizou a
médica.
“Enquanto tivermos o
homem agredindo a natureza, entrando onde ele não tem que entrar, a
disseminação, a migração para todos os lugares, cada vez mais a gente
vai ter a proliferação de todas as doenças. Daqui a pouco teremos
malária, febre amarela”, disse em tom de alerta.
Portal Correio