"Toda a Brasília sabe que Cunha é o verdadeiro
homem-bomba prestes a explodir. As explosivas gravações e as delações de
Sérgio Machado e de seus filhos vão parecer brincadeira de criança
quando, por hipótese, Cunha estiver atrás das grades e, para livrar a
sua cara vai apontar todas as caras e mãos sujas de petróleo que até
agora lhe prestam reverência. O divisor de águas será o dia da sua
cassação", afirma Alex Solnik; "Rápido no gatilho como é, é bem provável
que se antecipe ao pedido de prisão – como fez Sérgio Machado – e
resolva se transformar no maior delator premiado da história da Lava
Jato. E começar a contar a verdadeira história do impeachment. E então
Brasília vai tremer", prevê.
Alex Solnik
Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações
como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É
autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre
do Adhemar", "A guerra do apagão", "O domador de sonhos" e "Dragonfly"
(lançamento setembro 2016).
Um dos equívocos dos petistas e da defesa de Dilma
foi afirmar que Eduardo Cunha deflagrou o impeachment por vingança no
momento em que o PT se recusou a ficar ao seu lado no julgamento de
cassação que ele enfrenta no conselho de ética.
O motivo principal, e que está cada vez mais claro,
não foi vingança, mas sim uma clara e desesperada tentativa de se
proteger e proteger a cúpula peemedebista do furor da Lava Jato. Por
esse motivo ele se transformou no homem mais poderoso e mais temido de
Brasília.
A conspiração contra Dilma conseguiu a adesão
majoritária da Câmara e do Senado porque a promessa que foi oferecida a
deputados e senadores é que derrubado o seu governo e empossado o de
Temer haveria chance de todos escaparem da Lava Jato. Por menor que
fosse, seria a última. Continuar com Dilma no poder seria caminhar para a
guilhotina.
O início do processo de cassação de Cunha coincide
com o início do processo de impeachment. De lá para cá, Dilma foi
afastada a toque de caixa de suas funções, pela Câmara e pelo Senado, e
foi confinada numa "prisão dourada" chamada Palácio da Alvorada, mas a
cassação de Cunha ainda nem foi votada.
O estranho poder de resistência de Cunha se explica porque o mesmo conluio que derrubou Dilma dá sustentação a ele.
Nem o afastamento de suas funções como deputado e
como presidente da Câmara, determinado pelo STF foi suficiente para
diminuir o ímpeto do apoio a Cunha por uma razão evidente e não é por
gratidão a ele, mas por medo.
Seus apoiadores, a começar do presidente interino,
têm mais medo dele do que do STF. Preferem correr o risco de acobertar
aquele que Janot chamou de "delinquente" do que abandoná-lo à própria
sorte. Isso porque, tal como derrubou o governo Dilma ele pode derrubar a
Câmara, o Senado e o governo provisório.
Todos que o sustentam, liderados pela cúpula do PMDB
vivem o dia a dia na ilusão de que, enquanto o mantêm em sua residência
oficial de Brasília, onde desfruta de mordomia de 500 mil reais por mês
em serviçais e serviços e, portanto, longe de Curitiba, ficam mais
distantes do pesadelo que tomará conta de todos quando for decretada sua
cassação e, em consequência, a sua prisão, preventiva ou provisória.
Não é só ele quem luta com todas as forças para não
ser cassado, há oito meses, mas todos aqueles cujos nomes circulam em
várias listas de beneficiários do esquema sujo criado dentro da
Petrobrás porque sabem que, enquanto o apoiam não correm perigo, mas, no
momento em que ele perder sua última batalha, no momento de sua batalha
de Waterloo, todos perderão.
Eles fazem de tudo para salvá-lo porque sabem que não
serão salvos por ele se ele for transferido para Curitiba. Serão, isto
sim, seus alvos.
Fazem de tudo para salvá-lo porque sabem que ele não
terá nenhum escrúpulo em contar tudo o que sabe a respeito deles para
abater a sua pena.
Toda a Brasília sabe que Cunha é o verdadeiro
homem-bomba prestes a explodir. As explosivas gravações e as delações de
Sérgio Machado e de seus filhos vão parecer brincadeira de criança
quando, por hipótese, Cunha estiver atrás das grades e, para livrar a
sua cara vai apontar todas as caras e mãos sujas de petróleo que até
agora lhe prestam reverência.
O divisor de águas será o dia da sua cassação. Rápido
no gatilho como é, é bem provável que se antecipe ao pedido de prisão –
como fez Sérgio Machado – e resolva se transformar no maior delator
premiado da história da Lava Jato. E começar a contar a verdadeira
história do impeachment.
E então Brasília vai tremer.
Brasil 247