247 - O jornal de Otavio Frias
questiona encontro entre Michel Temer e o presidente afastado da Câmara
dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ):
“A carga de suspeitas, acusações e processos a pesar
sobre o parlamentar peemedebista transformou-o, justificadamente, no
exemplo por excelência do que há de mais condenável nas práticas
políticas brasileiras –e apenas isso já bastaria para que dele Temer
mantivesse segura distância”, diz. “A lamentar, entretanto, que as
prioridades republicanas se curvem ao hábito da penumbra, do conchavo,
do que mal se confessa”, acrescenta.
Leia abaixo:
Enquanto se prolongam no Senado as etapas do processo
de impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff (PT), e o ímpeto
para a realização de protestos parece restringir-se a pequenos grupos, o
governo de Michel Temer (PMDB) dá mostras de acomodação.
A sequência de ministros afastados por envolvimento
em investigações criminais já não é tão frenética. No plano econômico,
os sinais de moderado otimismo nos mercados encorajam as projeções das
autoridades e os esforços do Planalto em libertar-se das amarras de uma
austeridade extrema.
O aumento no Bolsa Família, a renegociação das
dívidas estaduais e a liberação de verbas para a Olimpíada se inscrevem
nessa estratégia, em que a procura de popularidade e de apoio
parlamentar se impõem a quem ocupa o cargo de presidente de modo
interino.
Daí o tecido de ambiguidades em que Temer se enreda.
Assegura-se a continuidade da Lava Jato, que ameaça
membros do primeiro escalão governamental. Estabelece-se um compromisso
com o saneamento financeiro do Estado, enquanto aumentos para o
funcionalismo são aprovados.
Apoiam-se leis e projetos —como a que regula a
organização das empresas estatais—, admitindo-se que recuos serão
inevitáveis com relação ao inicialmente pretendido.
O jogo de nuances e de sombras talvez seja em parte inevitável, de uma ótica política realista.
Um episódio nada inevitável, contudo, assinala com especial simbologia as limitações e riscos presentes nesse sinuoso percurso.
Sem constar da agenda oficial, deu-se na noite de
domingo (26) um encontro entre Temer e o presidente afastado da Câmara
dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
A carga de suspeitas, acusações e processos a pesar
sobre o parlamentar peemedebista transformou-o, justificadamente, no
exemplo por excelência do que há de mais condenável nas práticas
políticas brasileiras –e apenas isso já bastaria para que dele Temer
mantivesse segura distância.
Para piorar, a reunião se reveste com o manto do
segredo. Qual o teor das conversações entre o chefe do Executivo e o réu
do STF? Não se sabe, embora a ninguém escape que Cunha tem feito
gestões para salvar seu mandato na Câmara.
Depois de revelado pela imprensa, o encontro mereceu
nota oficial da Presidência, que já não tinha como negá-lo. Bem a seu
estilo, Cunha insistiu na versão de que a notícia era inverídica.
Impõe-se, sem dúvida, resolver o problema da sucessão
na presidência da Câmara. É necessário refundar as bases de apoio ao
Executivo. A lamentar, entretanto, que as prioridades republicanas se
curvem ao hábito da penumbra, do conchavo, do que mal se confessa.
Brasil 247