"No começo da crise, a mídia internacional
simplesmente reproduzia o que dizia a imprensa brasileira. Era uma
espécie de continuidade da operação de desconstrução da imagem do Brasil
de Lula", analisa o sociólogo Emir Sader; "Quando a crise se tornou
aguda, os principais meios de comunicação de todo o mundo mandaram seus
correspondentes, que logo se deram conta que se tratava exatamente do
contrário: são os corruptos, com Eduardo Cunha e Michel Temer à cabeça,
os que tratam de derrubar uma presidenta honesta, que não havia cometido
nenhum crime", completa; conforme aponta o colunista, hoje "mesmos os
órgãos mais neoliberais, que se entusiasmam com os planos privatizadores
de Henrique Meirelles, se dão conta da fragilidade política do governo e
de como ele está composto por um bando dos políticos mais corruptos do
Brasil".
Emir Sader
Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros
No começo da crise, a mídia internacional
simplesmente reproduzia o que dizia a imprensa brasileira. Era uma
espécie de continuidade da operação de desconstrução da imagem do Brasil
de Lula, iniciada com as manifestações de 2013. Por ela, o Brasil
deixava de ser o país que combatia radicalmente a fome e a desigualdade
para ser o país da corrupção. O país deixava de ter modelo de
desenvolvimento econômico com distribuição de renda factível e virtuoso
para ser um país inviável economicamente e caótico. Comandavam essa
operação alguns dos órgãos conservadores de maior peso na formação da
opinião pública internacional, entre eles The Economist, Wall Street
Journal, El País, Financial Times.
Era preciso destruir a imagem do Brasil como modelo
internacionalmente reconhecido de alternativa ao neoliberalismo. A
imagem de Lula como o mais importante líder político no combate à fome,
como "o cara", deveria ser substituída pela de um líder de um projeto
falido e sua imagem esquecida.
A crise, segundo grande parte da mídia internacional,
no seu início, era uma continuidade da interpretação dela simplesmente
como um estágio final da esgotamento dos governos do PT, corroído por
sua própria corrupção. Era a versão da mídia brasileira reproduzida
mecanicamente fora do Brasil.
Quando a crise se tornou aguda, os principais meios
de comunicação de todo o mundo mandaram seus correspondentes para
acompanhar seu desenlace, conforme anunciada pela mídia. Ao chegar, logo
se deram conta que se tratava exatamente do contrário: são os
corruptos, com Eduardo Cunha e Michel Temer à cabeça, os que tratam de
derrubar uma presidenta honesta, que não havia cometido nenhum crime de
responsabilidade que permitisse a aplicação do impeachment e que se
trata efetivamente de um golpe político dos setores mais conservadores
do país, para bloquear um modelo vitorioso quatro vezes nas urnas e cuja
imagem é o prestígio vigente do próprio Lula, sobre quem nenhuma
acusação de corrupção foi comprovada.
Gerou-se então uma impressionante unanimidade
internacional, maior do que em qualquer outro momento, inclusive durante
a ditadura militar, de condenação do golpe e de ilegitimidade do
governo que surge daí. Mesmos os órgãos mais neoliberais, que se
entusiasmam com os planos privatizadores de Henrique Meirelles, se dão
conta da fragilidade política do governo e de como ele está composto por
um bando dos políticos mais corruptos do Brasil.
Brasil 247