Patrocinadora
da Rio-2016, a Globo escalou um timaço para apresentar a esperada
cerimônia de abertura dos Jogos – o seu maior narrador, Galvão Bueno,
dois de seus melhores repórteres, Marcos Uchôa e Renato Ribeiro, e a
veterana e carismática Glória Maria.
Diante da alta
qualidade da festa, talvez tivesse sido melhor contar com uma equipe
menos badalada e mais discreta. Em vários momentos, em vez de
simplesmente apreciarem a beleza das imagens e músicas, Galvão e Glória
duelaram pelo direito de falar, atrapalhando a experiência de quem
estava assistindo.
Houve vários
desentendimentos entre os dois por este motivo. "Esses travesseiros...",
disse Galvão ao ver um dos efeitos exibidos no início. "São tambores",
corrigiu Glória. No momento em que foram exibidos grupos de imigrantes
que ajudaram a formar o Brasil, o narrador comentou: "Aí chegam os
japoneses". E a repórter: "São os asiáticos".
A certa altura,
extasiado com o que via, Galvão falou consigo mesmo: "Vamos falar pouco
agora e observar". Não deu certo. Em 10 segundos, ele já estava falando
novamente. Um pouco depois, enquanto Gloria explicava algo que
dispensava explicações, Galvão cortou: "Vamos ouvir, Glória!"
Durante o
desfile dos países, Galvão e Glória voltaram a se desentender sobre a
importância do corredor Usain Bolt. Na visão da repórter, o atleta
jamaicano está à altura dos maiores da história, o que pareceu uma
heresia para o narrador, que citou Pelé e Muhammad Ali.
Se sobrou
vontade de descrever para o espectador tudo o que ele estava vendo na
tela, faltou disposição para comentar um momento-chave, a não menção ao
nome do presidente interino Michel Temer. "Foi um pedido para que ele
não fosse apresentado, então foi uma quebra de protocolo", disse Galvão.
E mais não foi dito.
Também
quebrando o protocolo, o narrador abriu o coração e dividiu com o
público os seus sentimentos sobre a cerimônia: “Eu me emocionei, fui às
lagrimas com o que eu vi. Um recado tão importante passado”, disse,
sobre a ênfase na questão da sustentabilidade. Galvão não se lembrou de
observar, porém, que o Rio não cumpriu várias promessas nesta matéria,
como a despoluição da Baía de Guanabara.
Além da emoção,
Galvão também não esqueceu de falar da alegria com o Ibope que a Globo
alcançou no decorrer da noite. E, no final, o narrador reportou que
pesquisadores da emissora haviam atestado nas redes sociais um merecido
reconhecimento internacional à qualidade da cerimônia. “O mundo inteiro
está encantado”, disse. “É a mais politizada de todas as cerimônias que
eu vi”.
Na sequência,
ao comentar a recepção a Michel Temer, o narrador registrou que ele foi
recebido “sob vaias e alguns aplausos”. Fez uma pausa e corrigiu,
atenuando a situação. “Sob vaias e aplausos”.
Foi, de fato,
uma cerimônia muito bonita, divertida, "memorável" mesmo, como disse o
narrador – e, como é tradicional, muito longa (quase quatro horas). A
próxima, agora, só em 2020. Com Galvão, espero.