"Entre tantas coisas insólitas que já aconteceram na
Operação Lava Jato, nada mais esquisito e suspeito do que este
cancelamento, pelo procurador-geral Rodrigo Janot, das negociações para a
delação premiada da Construtora OAS", afirma Tereza Cruvinel, colunista
do 247; a jornalista lembra que, "nos últimos três meses, ficou clara a
má vontade do Ministério Público Federal para com a delação da OAS, que
aumentou depois de vazamentos sobre também supostas citações aos
tucanos Aécio Neves e José Serra"; "O que confere à decisão de Janot
este cheiro de pizza queimada são estes antecedentes já conhecidos de
uma negociação marcada por tropeços e quase recusas", diz.
Entre tantas coisas insólitas que já aconteceram na
Operação Lava Jato, nada mais esquisito e suspeito do que este
cancelamento, pelo procurador-geral Rodrigo Janot, das negociações para a
delação premiada da Construtora OAS. Ele já teria, inclusive,
determinado a devolução de todos os “anexos” da negociação, ou seja, os
esboços apresentados pela empresa sobre o que poderia dizer, bem como a
trituração da papelada sobre o fracassado acordo. Como disse o
ex-ministro Eugênio Aragão, “que cheira mal, cheira”. Nos últimos três
meses, ficou clara a má vontade do Ministério Público Federal para com a
delação da OAS, que aumentou depois de vazamentos sobre também supostas
citações aos tucanos Aécio Neves e José Serra.
O que confere à decisão de Janot este cheiro de pizza
queimada são estes antecedentes já conhecidos de uma negociação marcada
por tropeços e quase recusas. Primeiro, elas empacaram no final de
abril, quando as preliminares indicaram que o empresário Léo Pinheiro e
os executivos da OAS não ofereceriam elementos que pudessem incriminar o
ex-presidente Lula, seja no caso do tríplex do Guarujá, seja no do
sítio de Atibaia. Há uma profusão de notícias sobre isso na Internet mas
fiquemos apenas com a matéria da Folha de S. Paulo de 1 de junho passado: “Delação de sócio da OAS trava após ele inocentar Lula”.
A empreiteira continuou insistindo na negociação (um
indicador claro de que não lhe interessava fazer um vazamento que
pusesse tudo a perder) e vieram as declarações reiteradas dos
procuradores, especialmente de Carlos Fernando do Santos Lima, no
sentido de que não “havia espaço” para duas delações a mais na Lava
Jato. Seria a da Odebrecht ou a da OAS. Sobre isso foram publicadas
dezenas de matérias e eu registrei neste blog a falta de um critério objetivo para tal “medida de espaço”.
As declarações do procurador Carlos Fernando, embora
estejam frescas na memória de todos, podem ser conferidas em muitas
matérias, inclusive nesta, de O Estado de S. Paulo,
em que ele diz também: “As coisas estão muito longe de serem
resolvidas, quem vai (fazer delação). Acreditamos que só tenha espaço
para mais uma”.
Agora se vê que as coisas não estavam mesmo
resolvidas, dentro do MPF, sobre o futuro das delações das empreiteiras
mais importantes no processo, seja pelo volume de recursos envolvidos,
seja pelo número de políticos que poderiam ser delatados. Ou, mais
importante, sobre quais seriam atingidos.
As negociações, entretanto, avançaram também com a
OAS e foram vazadas informações de que o atual chanceler José Serra e o
presidente do PSDB, Aécio Neves, seriam citados na delação que ainda
estava sendo negociada. Para recordar, dois links sobre a suposta
intenção de delatar os dois tucanos: aqui e aqui.
Assim seguiam as coisas até que a revista Veja
circulou no final de semana com a notícia de que a delação da OAS faria
revelações sobre seu relacionamento com Dias Toffoli. Nada de concreto,
apenas aspersões caluniosas mas, se o objetivo era melindrar o STF, foi
conseguido. O ministro Gilmar Mendes estrilou virulentamente contra os
procuradores e seus abusos, embora não o tenha feito em outras ocasiões.
E, ato contínuo, ou simultâneo, Janot cancelou as negociações,
sugerindo que a empresa foi autora do vazamento para forçar a aceitação
de sua delação nos termos desejados. Não faz sentido, depois de ter se
empenhado por ela, a OAS ter colocado tudo em risco ao violar a
confidencialidade com uma revelação tão explosiva. A referência às
relações de Leo Pinheiro com Toffoli aparece lateralmente, desprovida de
acusação, num anexo sobre seu possível depoimento.
Se mantiver a decisão de excluir a OAS, sugerida com
ênfase nas declarações anteriores do procurador Carlos Fernando, Janot
estará reforçando a suspeita de que tomou a decisão para proteger alguém
das revelações que poderiam ser feitas pela empreiteira. E a
desconfiança de que detonou-a no nascedouro para que não acontecesse,
deixando no ar o cheiro de pizza que não combina com o combate à
corrupção. E como o pretexto foi o vazamento, persistem a perguntas:
quem vazou e para quê? Isso sim, precisa ser investigado, como diz o
ministro Marco Aurélio, do STF.
Brasil 247