Deu no Estadão: Em delação premiada, empresário diz que pagou 10% de propina ao grupo político comandado por Nabor Wanderley
O
empresário José Aloysio da Costa Machado Neto, um dos donos da
Soconstrói, empresa investigada na operação Desumanidade, afirmou em
proposta de delação premiada que o pai do deputado Hugo Motta (PMDB-PB)
recebeu 10% em propina sobre obra da Prefeitura do município de Patos.
Nabor Wanderley da Nóbrega Filho, pai do peemedebista, é candidato a
prefeito do cidade pelo PMDB. De acordo com o depoimento, a propina saiu
de um contrato de terraplanagem de ruas de Patos.
Nabor
é o candidato do grupo político da família Motta à Prefeitura de Patos.
Sua candidatura havia sido impugnada pela Justiça, mas ele recorreu ao
Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba e o relator do caso, Ricardo
Costa Freitas, votou pela liberação da chapa para disputar o pleito. A
decisão final está prevista para a próxima semana.
“Hugo
Motta já era deputado federal nesta época. Nabor ganha as eleições e
todas as obras vão ser executadas por Segundo Madruga, as empresas eram
emprestadas, 10% do valor das obras iriam para o grupo político
comandado por Nabor – o grupo envolve Nabor, hugo Motta, Chica Motta,
Ilanna Motta e outros menores”, explicou o empresário em sua proposta de
delação.
O
empresário também afirmou que Segundo Madruga, prefeito da cidade
vizinha de Emas (PB), e cunhado de Hugo Motta, se reuniu com Nabor
Wanderley para determinar que a obra de terraplanagem ficaria a cargo da
empresa de fachada Suport. “Isto ocorreu em 2010, o contrato tinha o
valor de 1 milhão e 96 mil. Que no caso em específico a fraude se deu
pela especificidade e direcionamento do Edital”, afirmou o empresário.
Ao Ministério Público Federal, o empresário declarou que os editais da
Prefeitura de Patos são ‘confeccionados com algumas exigências e
restrições para beneficiar algumas empresas’.
José
Aloysio da Costa Machado Neto disse que Segundo Madruga, cunhado de
Motta, solicitou o acervo técnico da empresa para que o presidente da
licitação e Secretário de Planejamento à época, identificado como
Corcino, enquadrasse ao edital. “Hugo Motta havia determinado a Corcino
que o Edital deveria atender a empresa. Que o primeiro edital que
Corcino fez não atendia ao acervo do colaborador (José Aloysio da Costa
Machado Neto) então Hugo chamou a atenção dele para que fosse elaborado
um novo Edital atendendo ao acervo para que a empresa pudesse vencer. A
Suport participou e venceu”, revelou o empresário.
Em
depoimento gravado em vídeo em 4 de agosto deste ano, José Aloysio da
Costa Machado Neto declarou que em determinado momento o dinheiro
destinado ao pai de Hugo Motta era transferido direto da conta da Suport
para a empresa Engemaia (Junior Maia), ‘para arcar com débitos de
Nabor’. “Nabor geralmente recebia em espécie, mas no final a parte de
Nabor ia diretamente para a Engemaia (Junior Maia). Esta construtora
ainda existe e o sócio é vivo”, afirmou o empresário.
Integrantes
da família de Hugo Motta foram alvos de duas operações do Ministério
Público Federal da Paraíba. A Desumanidade investiga desvios na
construção de Unidades Básicas de Saúde em Patos e a Veiculação apura
fraude na locação de veículos em três cidades cujos prefeitos são
parentes dos Motta.
A
Veiculação prendeu Ilanna Motta, mãe de Hugo Motta, Segundo Madruga,
seu cunhado, e Rene Caroca, casado com sua mãe, e conduziu
coercitivamente Chica Motta, avó do peemedebista. A Procuradoria da
República, na Paraíba, mapeou repasses para mãe e cunhado de
ex-presidente da CPI da Petrobrás. Familiares do deputado Hugo Motta
(PMDB-PB) teriam recebido valores desviados do Fundo Nacional de Saúde
que seriam utilizados na construção de uma Unidade Básica de Saúde
(UBS).
Com a palavra Nabor Wanderley:
1 – Desconheço enfaticamente a proposta de delação citada nesta matéria;
2
– Julgo muito estranha essa proposta de delação e conclusões totalmente
inverídicas às vésperas da eleição, claramente com o intuito de
influenciar o pleito, já que não conheço os dados mencionados;
3
– Jamais solicitei recursos ou interferi em processos licitatórios de
quaisquer órgãos públicos da Paraíba. Confio na justiça e no Ministério
Público Federal e coloco-me à disposição para quaisquer esclarecimentos,
na certeza de que a verdade sempre vence. No momento oportuno, toda a
verdade será esclarecida e tomarei as providencias judiciais cabíveis
contra os autores das inverdades.
Com a palavra a família Motta:
O
advogado Solon Benevides, que representa os integrantes da família
Motta, afirmou ao Estado que os fatos não podem ser objeto de análise
pública porque estão sob sigilo. Segundo ele, a prefeita Chica Motta
mandou abrir uma sindicância para apurar as possíveis irregularidades.
“No curso da instrução vamos provar que as acusações não tem
procedência”, afirmou Benevides. O Estado não conseguiu contato com a
defesa de Segundo Madruga.