O Estatuto do Idoso completa hoje (1º), Dia
internacional do Idoso, 13 anos de vigência. Se a legislação foi
considerada um avanço por colocar na pauta do dia as demandas da parcela
da população com 60 anos ou mais, com o envelhecimento gradual da
população muito mais do que leis, os brasileiros precisam aprender a
lidar com os mais velhos e se preparar, desde cedo, para atingir a
terceira idade.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), o número de idosos no Brasil alcança
22,9 milhões, 11,34% da população. De acordo com a Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (Pnad), a proporção de idosos de 60 anos ou mais
passou de 9,7%, em 2004, para 13,7%, em 2014, sendo o grupo etário que
mais cresceu. Em 2030, essa proporção seria de 18,6%, e, em 2060, de
33,7%, ou seja, a cada três pessoas na população uma terá ao menos 60
anos de idade.
Para a presidente do Departamento de Gerontologia da
Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e presidente do
Conselho do Idoso do Estado de São Paulo, Claudia Fló, os mais jovens e
os próprios idosos devem melhorar a percepção que têm do envelhecimento.
“A gente vê muita vezes os próprios idosos negando
essa fase. Vemos pessoas de 70, 80 anos que se referem aos idosos como
“os idosos”, como se eles não se enquadrassem nisso. Em tenho 60 anos,
sou idosa e tenha que prestar atenção de nunca dizer ‘eles’. Tanto nós
idosos temos que mudar o nosso jeito de agir, como as pessoas que não
são idosas têm que nos respeitar”, afirmou a fisioterapeuta.
Para a especialista, a partir do Estatuto do Idoso,
as pessoas mais velhas passaram a ser olhados. “Era em menor número do
que existe hoje, mas agora, com esse aumento expressivo do número de
idosos, ter uma legislação que olhe para eles é bastante importante.
Abre os olhos das pessoas para o envelhecimento e para os idosos. Dizer
não ao preconceito e à exclusão e tudo aquilo que discrimina o idoso.
Não dá mais para ter discriminação, separação”.
Apesar de avançada, a lei ainda apresenta falhas,
principalmente de implementação. “Os idosos têm direito a ter
acompanhante nos hospitais quando estão internados. Os hospitais, na
maioria da vezes, deixam pessoas acompanharem os idosos, só que não dão
condições para eles ficarem como deveriam. Ficar sentado, dia e noite,
em uma cadeira de plástico para dormir é muito desconfortável. Isso
deveria ser modificado. Não basta deixar entrar, é preciso alimentação e
uma cadeira decente”, exemplificou.
Para ter viver bem após os 60 anos, Claudia Fló
ressalta como essencial a prática de atividade física. “A primeira coisa
que a gente tem que fazer é tentar manter a saúde e preservá-la,
fazendo as coisas que são certas. Atividade física é uma das coisas mais
importantes”, destacou.
Ela lembrou que com o passar dos anos o idoso perde
massa muscular e massa óssea. Por isso, as atividades físicas tornam-se
cada vez mais essenciais. “Se qualquer pessoa que tenha uma diminuição
da massa óssea cair e sofrer uma fratura é uma coisa terrível. Em geral,
10% das pessoas que caem e sofrem fraturas quando são idosos se
recuperam totalmente. É muito pouca gente. Um grande número morre, outro
acaba indo para instituições de longa permanência e muitos ficam com
sequelas”.
Com o envelhecimento gradual da população brasileira,
a fisioterapeuta ressalta a necessidade de o país criar, nas escolas,
uma cultura de respeito aos mais velhos e de cuidado com a própria
saúde.
“Há coisas que precisamos fazer a vida toda. O jeito
de se preparar para o envelhecimento é, desde cedo, a pessoa pensar que
um dia vai ficar velha. É um papel da Sociedade de Brasileira de
Geriatria e Gerontologia divulgar nas escolas, tentar incluir no
currículo esse assunto para as crianças, para que cresçam ouvindo que a
gente tem que se preocupar sempre”.
Instituído pelas Nações Unidas em 1991, o Dia
Internacional do Idoso este ano tem como tema a reflexão sobre
preconceitos que ainda recaem sobre a velhice. “Estamos vivendo mais,
isso é motivo de comemoração. As pessoas estão vivendo mais e com mais
saúde do que no passado. A minha avó era muito velhinha e morreu com 84
anos. Hoje, percebo que ela não era tão velhinha assim. Atualmente, uma
pessoa de 84 anos tem expectativa de viver pelo menos mais dez anos. As
pessoas estão envelhecendo diferente. Tudo isso é motivo para
comemorar” destacou Claudia Fló.
EBC